Publicado por: peregrino | 10 de Junho de 2010

E agora?

Celebra-se (hoje) mais um 10 de Junho. E agora?

Dizem que é o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades portuguesas. Mas o que se celebra verdadeiramente neste dia? Portugal, outrora grande, arrasta-se, débil e órfão, nesta sociedade, clamando por quem O faça renascer.

A agricultura está à beira da ruína com os campos, antes plenos de culturas, abandonados. Situação mais grave ainda no interior de Portugal, após uma desmedida migração para o litoral que não foi atempadamente considerada e regulada. Os agricultores que resistiram vêm-se a braços com grandes dificuldades, numa terra que parece ignorar a importância da sua actividade.

As pescas carecem, tal como a agricultura, de incentivos e apoios. Haverá ainda quem se lembre das ordens que houve no passado para abater grande parte da frota pesqueira nacional, algo incompreensível num país que tem a terceira maior zona económica exclusiva da Europa, 11ª no Mundo. Enquanto isso as águas nacionais são invadidas por frotas pesqueiras de outros países que, muitas vezes, ignoram os limites de quotas, levando tudo de arrastão. E os pescadores Portugueses?

O sector primário, em suma, parece estar a ser remetido para o esquecimento; deixado ao quase abandono. Nada que deva surpreender numa sociedade que deixa os seus filhos pensarem que o leite, os ovos, as couves, etc vem do supermercado, ignorando a sua origem. Mas quando se vai às compras, vê-se feijão verde de Marrocos, maçã de Espanha, batata de França, etc. Entretanto ouvem-se notícias de agricultores portugueses que se manifestam por não conseguir escoar os seus produtos.

Da história de Portugal, tudo é contado como se fosse pecado e, quando não há erros na transmissão do conhecimento, quase que se ensina a pedir desculpa por termos feito o que nenhum outro país foi capaz; por termos sido verdadeiramente grandes. E a grandeza não se mede (só) em número de territórios conquistados e no comércio efectuado. Mede-se no espírito aventureiro, criativo e empreendedor; mede-se na coragem; mede-se nos conhecimentos científicos que se promoveram. Mede-se no modo como os Portugueses sempre se souberam integrar pacificamente nas comunidades locais e que ainda hoje é visível no modo como as forças armadas nacionais são bem recebidas, nos teatros de operações onde actuam, pelos povos locais. Mede-se, por fim, pela capacidade exímia em estabelecer pontes quer culturais quer comerciais.

Portugal tem mais de 800 anos de história, muito mais do que outros países (ocidentais). No entanto, esses países elevam a pouca história que possuem, fazendo filmes, mini-séries, telenovelas, livros entre outros. Por cá, pelo contrário, quase que se renega o passado que, para muitos, é totalmente desconhecido.

Nesta terra os jogadores de futebol são elevados à categoria de heróis nacionais mas, lamentavelmente, não existem os mesmos sentimentos relativamente ao primeiro Rei de Portugal, cujo nome permanece um mistério para muitos. Aqueles que deram a sua vida pela Pátria são esquecidos. Uma verdadeira vergonha.

Camões, figura magistral de língua portuguesa, é ignorado e maltratado. A própria língua que tão bem soube usar é alvo dos mais violentos ataques. Não se sabe falar nem escrever Português correctamente nos dias que correm. Dão-se ‘erros de palmatória’. Elaboram-se frases sem sentido devido ao uso de pontuação errada ou mesmo devido ao não uso de pontuação. E tudo parece estar bem. Tudo se aceita como normal. Entretanto começa a ensinar-se inglês às crianças logo a partir do primeiro ciclo.

A língua Portuguesa é a terceira mais falada no Mundo Ocidental, a 5ª mais falada em todo o Mundo! Será mesmo necessária essa subserviência à língua Inglesa? Não se deveria, ao invés, promover ainda mais a língua lusa no Mundo? Não há qualquer motivo para nos envergonharmos de falar Português, antes pelo contrário! As prioridades estão, claramente, trocadas. Não é vergonha não falar (bem) Inglês, Francês ou mesmo Alemão! Vergonha é não conhecer a própria língua mãe, os seus autores e as suas imensas potencialidades. Os que têm o inglês como língua nativa ‘enchem o peito’ quando falam de Shakespeare. Mas e os autores de língua Portuguesa? Gil Vicente, Camões, Eça de Queirós, Almeida Garrett entre tantos outros? Por que não se valorizam mais os autores lusófonos e a sua obra? Serão eles menos do que os seus congéneres estrangeiros?

As comunidades portuguesas, espalhadas pelo mundo, são na esmagadora maioria das vezes motivo de orgulho para qualquer Português. Infelizmente nem sempre é prestado o auxílio devido a essas comunidades que, em muitos casos, ficam entregues a si próprias.

E agora? Agora falta um pensamento coerente e contínuo para Portugal que não tenha como objectivo apenas as próximas eleições. Agora falta um pai para esta terra que está órfã. Agora falta alguém capaz de nos recordar, no dia a dia, que somos capazes de fazer grande obra e ainda podemos marcar a diferença. Falta, por fim, quem saiba unir os Portugueses em torno daquilo que verdadeiramente interessa: Portugal.

E agora?

Agora é fácil!

Agora Portugal precisa de um REI.


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